sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O Novo Ano de Isabel


os fogos de artifício acordaram Isabel, que em breves segundos estava sentada na cama. os olhos esbugalhados refletiam a lua cheia. as janelas abertas. Isabel não sabia onde estava, parecia ter dormido por dias, meses, anos... não reconhecia a cama, as paredes, só sabia que aquele não era o seu quarto. os pensamentos estavam confusos, não sabia se eram lembranças ou sonhos, se as imagens vindas em sua mente eram reais ou inventadas. percebeu-se nua. e sem pelos. nenhum. não entendia porque estava careca.
ao tentar se levantar a imagem de um rosto masculino veio forte em sua mente, tão forte que Isabel ficou tonta e voltou a deitar. no centro do teto que rodava velozmente, o rosto. olhos puxados, barba por fazer, um nariz e boca finos, pele branquíssima, cabelos escuros. não sabia quem era, só sabia que o amava.
na sua mente figuras em movimento. ele limpando a geladeira. ela comendo milho. os dois se beijando na rua numa noite chuvosa. os corpos molhados. sushi. ele sorrindo tocando violão. ele sorrindo cantando. ele sorrindo. ele.
nos dois minutos e vinte e sete segundos que essas imagens ficaram em sua mente o coração de Isabel parou. ela voltou a respirar assustada pelo barulho dos fogos de artifícios. percebeu que se tratava de um novo ano que estava começando. pegou uma bermuda e uma camisa que estava no chão. vestiu. abriu a porta do quarto. passou pela sala desconhecida. encontrou a porta da cozinha aberta. saiu sem pensar.
Isabel seguiu os fogos. as cores. os diferentes sons. sem perceber estava no meio de uma multidão de branco. parou ao avistar o rosto masculino da sua mente. ali na sua frente. as suas mãos gelaram. seu coração disparou. e ele abraçou e beijou. não Isabel. outra. uma moça que não tinha muita beleza, mas também não era dotada de feiura.
os sons não eram mais ouvidos por Isabel e toda a sua memória voltou num estalar de dedos. Isabel o amava. quinze dias desse encontro ele dizia que também amava Isabel. ela voltou para a casa. lembrou que era sua casa. encheu as mãos de comprimidos e tomou. a ideia não era deixar de existir, mas dormir pelo máximo de tempo possível, para quando acordar não lembrar de nada, nem mesmo de quem ela é.

Isabel, que sempre foi sensual e sexual, que sempre invejou o amor que conhecidos dizem que Pierre é capaz de sentir, hoje percebe que também é capaz de amar. de sofrer. e sonha com o dia que voltará a amar. a sorrir. isso se Isabel acordar.

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