quarta-feira, 23 de novembro de 2011

quando te vejo


ao longe vejo você chegando. a cada passo que você dá, a cada segundo que o tempo passa, a cada milímetro de distância mais próximo, meu coração aumenta as batidas, um passo a mais, dezenas de batidas cardíacas somadas, o sangue circula mais rápido pelo meu corpo, as mãos ficam inquietas, os lábios querem abrir, um sorriso deseja se formar, mas eu o contenho para não transparecer minha completa felicidade ao ter você ao alcance dos meus olhos. você chega, me olha, e suavemente, envergonhadamente, abre um sorriso encantador, o formato dos teus lábios com a perfeição dos teus dentes me deixam paralisado. meus olhos brilham ao encontrar teus olhos. você me diz ‘oi’ e eu fico com a garganta seca, não consigo responder, apenas deixo sair o sorriso que guardo desde o momento que você surgiu ao longe. nossas mãos se tocam. sua pele é quente, mais quente que dos outros seres humanos que eu já toquei. sua pele é macia. quente e macia. sinto vontade de não largar tua mão. sinto o desejo de te puxar e sem dizer nenhuma palavra, sem emitir nenhum som, apenas no silêncio do momento sem palavras fazer com que meus lábios encontrem os teus lábios, mas não tenho coragem. nos breves segundos que nosso corpo se toca (pelas mãos) e nossa alma se encontra (nos olhares) eu fico estático, patético, encantado. não sei como. não sei por que. não sei mais nada desde o momento que você apareceu pela primeira vez na minha vida. tens o dom de me deixar nervoso, de tirar meu chão, de me colocar nas nuvens em segundos. encontrar-te é sensacional, me aquece e me anima por dias e dias. o único momento triste é quando você vai embora. quando vejo, ao longe, seu corpo sumindo no horizonte e apenas o céu azul fica no meu campo de visão. rezo, todos os dias, para que não seja esta a última vez que vi. desejo ver-te diariamente, profundamente, apaixonadamente para sempre.

domingo, 10 de julho de 2011

Pierre e a Verdadeira Nudez


Pierre levantou do sofá onde havia passado os últimos 7 dias, caminhou calmamente até o banheiro e lavou o rosto, virou e se olhou no espelho. O que ele via ia muito além do seu corpo nu, do cabelo desarrumado, da bunda marcada pela espessura do tecido do sofá, dos dedos lambuzados de chocolate, do pênis murcho pelo frio, das coxas finas, dos braços com pouco músculo. O que ele via era a tristeza da alma, a dor no peito, o desejo de gritar, de cravar no peito uma faca, de bater com a cabeça na parede, de arranhar todo o seu corpo com suas unhas enormes, de deixar uma marca na face para que ninguém mais o olhe, para que ninguém mais o deseje, para que ninguém mais o iluda.
Em frente ao espelho Pierre olhava dentro dos seus olhos. O que ele via era toda a aflição, toda a agonia, toda a amargura, toda a angústia, toda a ansiedade, todo o desgosto, toda a dor que habitava a sua alma. Não, as lágrimas não corriam e ele não sentia vontade de chorar. O que Pierre sentia era tão forte que transcendia a vontade do corpo de colocar para fora através de lágrimas, não adiantava chorar porque deixar as lágrimas correrem era pouco, era insignificante, medíocre.
Com o rosto levado, o corpo nu, Pierre saiu do banheiro, caminhou até a cozinha, abriu a porta, apertou o botão do elevador, esperou o mesmo chegar ao seu andar, entrou, apertou o botão do térreo, desceu, abriu a porta do elevador, cumprimentou o porteiro, abriu a porta do prédio e saiu na noite fria e enluarada sem destino. Em choque, todos o olhavam, apontavam para o rapaz sem roupas, debochavam. Pierre não percebeu ninguém, porque não era o seu corpo que estava nu, era a sua alma que não tinha mais razão para se vestir e continuar.
Neste momento Pierre está na beira-mar mais famosa do país. Os turistas o olham sem entender. A polícia foi chamada. E ele continua a caminhar na direção do mar. Se a água gélida irá renová-lo, se a água gélida irá congelá-lo, se na água gélida ele irá desaparecer isso eu não sei. Eu sou apenas mais um que o observa sem entender e não tem coragem de chegar perto, mas mesmo de longe percebo que Pierre é extremamente afetuoso e sensível. Seres humanos sensíveis são os que mais sofrem. O mundo não é feito para eles. O mundo é feito para quem é insensível e racional. Talvez eu não faça nada por identificação com Pierre. Talvez eu me junte à ele. Não sei. Só sei que ele continua…

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Isabel e o jovem de 17 anos



Ele tem apenas 17 anos, ela diz. 17 anos, repete. 17, pensa.

Como uma mulher tão madura e com diversos homens aos seus pés se envolve com um rapaz de apenas 17 anos? Não pensem que a maturidade de Isabel é porque ela é idosa, não, Isabel tem uns 30, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos. Não importa a idade dela.
Isabel possui uma inteligência reveladora. Caminha com um ar de misteriosa. Sem querer é sedutora. Tem uma beleza atraente. É dona de si. Isabel já teve em seus braços, em suas mãos, homens de diversas idades, mas desde os seus 15 anos não pensa em um tão jovem. Ele tem apenas 17 anos, ela diz. 17 anos, repete. 17, pensa.
Quando Isabel contou ao seu criador (eu) que havia conhecido e se encantado por um rapaz tão jovem, ele não a entendeu e pediu que ela explicasse.

Isabel estava sentada, tomando café num barzinho, quando percebeu que havia um menino observando-a (ela não sabia, mas ele tinha apenas 17 anos). Isabel continuou a bebericar o seu café tranquilamente. Ao olhar na direção onde o rapaz estava ela percebeu que ele havia sumido. Não permanecia mais lá. Isabel não notou, mas a ausência do jovem tinha causado em seu estado de espírito uma mudança, que ela se deu conta segundos depois, quando olhou para o lado e viu, em pé, o jovem rapaz segurando uma rosa vermelha em suas mãos, sorrindo discreta e envergonhadamente.
Ele não era alto, tinha os seus 1,75m. não tinha um corpo de homem. Não era nada definido. Ele era magrelo, totalmente diferente dos homens que Isabel sempre teve em suas mãos. Mas o corpo dele não foi notado por Isabel, ela estava extasiada com o olhar do rapaz. Com seus olhos castanhos, que brilhavam de alegria, ele a hipnotizou. Sim, ele estava nervoso, e Isabel percebeu isso quando viu a flor tremendo. Pela primeira vez em sua vida Isabel não conseguiu tomar uma atitude, ela não acreditava que um rapaz, aparentemente tão jovem (ela não sabia, mas ele tinha apenas 17 anos), estava ali, corajosamente em pé na sua frente segurando uma rosa vermelha. Isabel conseguiu apenas sorrir. Ele se aproximou e entregou-lhe a flor, acompanhada de um pequeno cartão. Isabel aceitou, pensando que ele sairia correndo após tal ato (ela não sabia, mas ele queria sair correndo, porém suas pernas não deixaram que ele se movesse). No cartão apenas as palavras “Vamos ao cinema?”.
De todas as possibilidades, de todas as frases e palavras românticas que existem, de todos os elogios que Isabel poderia receber, estava escrito o que ela jamais havia imaginado. Um convite para ir ao cinema. Aquilo tudo era muito diferente do natural. Isabel estava acostumada com homens mais rudes, com cantadas e piadas sem graça. Mas o jovem (ela não sabia, mas ele tinha apenas 17 anos), havia sido diferente. E ela aceitou.
Durante o filme o silêncio entre os dois reinava. Na escuridão do cinema Isabel bocejou e espreguiçou, enquanto ela estava com seus braços para o alto, ele se aproximou e com um “não vou deixar você dormir” deu um beijo em Isabel (ela não sabia, mas ele tinha apenas 17 anos). Não foi um beijo apaixonado, nem o melhor beijo da vida dela, mas foi, talvez, o beijo mais sincero e inesperado que ela recebeu. E ali ficaram, no escuro, com as mãos dadas e trocando beijos durante as horas em que o filme passava.
Ao findar a sessão nenhum dos dois se levantou. Nem ele, nem ela. Eles não queriam ir embora. Eles desejavam ficar mais algumas horas juntos. E Isabel ofereceu carona ao jovem (ela não sabia, mas ele tinha apenas 17 anos). Durante o caminho, conversaram muito e Isabel ficou encantada com a inteligência e os planos de vida do rapaz, com a sua vontade de fazer faculdade, de se tornar um grande engenheiro, de ser um pai de família, de ter uma esposa para amar e no final do caminho ela descobriu que o jovem tem apenas 17 anos. Ele a beijou, deixou seu número de celular e saiu do carro.

O jovem agora está deitado em sua cama aguardando uma ligação de Isabel.

Isabel agora está deitada no sofá, não da casa dela, mas da minha (do seu criador).


Por mais que eu não queria admitir, acredito que Isabel está começando a se apaixonar por um jovem de apenas 17 anos. É Isabel, desta vez você me surpreendeu.


Ele tem apenas 17 anos, eu digo. 17 anos, repito. 17, penso.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Devolvam as Nossas Línguas


Naquela noite de abril de 2010 nos reunimos para protestar e pedir respostas a tantas perguntas que a mandatária da Fundação Cultural de Blumenau se negava a responder. Não, não foi um fato isolado e não foi naquela noite que decidimos pegar nossas panelas e vozes para tentar, mais uma vez, sermos ouvidos.
O Titanic Fundação Cultural de Blumenau já havia esbarrado no seu iceberg muito antes, logo após a enchente de 2008 devastar a cidade. A nomeação da nova mandatária da FCBLU (que admitiu ao Jornal de Santa Catarina que a sua nomeação era fruto de negociações partidárias) deveria ser aclamada pelos videntes, porque ao ser nomeada a mesma comparou os artistas de Blumenau aos violinistas do Titanic, que animam o povo enquanto o barco afunda. E realmente, o barco começou a afundar naquele ano. Desde então os artistas da cidade decidiram lutar contra a previsão da mandatária.
Em agosto de 2009 mais de 200 artistas organizaram e participaram do festival “Nosso Inverno”, que tinha como foco o protesto contra a falta de política pública cultural em Blumenau. A mandatária apareceu apenas na abertura do evento, viu o espetáculo manifesto e não voltou para o debate no final do Nosso Inverno. Ali teve início a não conversa com os artistas e a união dos mesmos iniciando o “Movimento Cultural Devolvam os Nossos Braços”.
Em abril de 2010 mais um buraco era feito no casco do Titanic: a falta de explicação e o atraso do pagamento dos artistas participantes do Salão Elke Hering. Na noite do dia 14 daquele mês nos reunimos em frente à FCBLU e iniciamos o nosso protesto em busca de respostas, não apenas para o pagamento do Salão, mas também para o fechamento do Casarão das Oficinas, o problema com a Escolinha de Artes, entre outros enigmas. A reunião deveria ter acontecido uma semana antes, porém a mandatária nos deixou esperando, e mais uma vez ficamos sem respostas.
Naquela noite tínhamos panelas, colheres e vozes. Tínhamos a união e representávamos os mais de 200 artistas do “Movimento Cultural Devolvam os Nossos Braços”. As panelas e as colheres se uniram antes da reunião, e foram silenciadas para que as vozes de quem as tinha em punho tomassem conta do espaço.
Na carta aberta que escrevi naquela noite, após a reunião, relatando os fatos, digo o que aqui faço questão de repetir:

“A reunião teve início e durante, aproximadamente, duas horas vimos uma “representante” da cultura se justificando, colocando a culpa no jurídico, nas gestões anteriores, na burocracia, nos artistas, etc. Somente após a artista Aline Assumpção falar sobre a desorganização do Edital do 9º Salão, citando algumas das falhas ocorridas, somente depois de não ter para onde fugir, de não ter como culpar outros, a presidente (...) assumiu que houve falhas durante o processo do 9º Salão, e disse que 21 projetos foram aprovados ontem. Isso mesmo: ONTEM. Após a pressão dos artistas a Fundação reconheceu o seu erro: “Edital errado, sim, horrível”, disse (...) a diretora administrativa e financeira”

Aline não foi a única a falar, porém foi a mais sensata, e como (na época) era uma das representantes dos artistas no Conselho Municipal de Cultura, falou em nome de todos. Tanto é que nenhum dos presentes se manifestou de forma contrária às palavras de Aline.
Não recordo com precisão a ordem dos fatos, mas desde então o Casarão das Oficinas, onde eu ministrava aulas de teatro, foi fechado; o telhado da Escolinha de Artes desabou e tudo foi demolido; o Museu Fritz Müller só acumula problemas; a Feira do Livro se tornou uma vergonha; a mandatária se sentiu ofendida e abriu um processo contra Aline Assumpção, na época Conselheira Municipal de Cultura, que em sua fala representava a classe artística e a população blumenauense; Márcio Cubiak e Aline Assumpção, dois Conselheiros Municipais de Cultura, pediram a destituição de suas funções; e os espaços da Fundação, antes gratuitos aos artistas, começaram a ser cobrados.
Sim, a mandatária conseguiu cortar os braços dos artistas e da população que clama por apoio às artes, braços estes que tentavam desesperadamente fechar os buracos no Titanic para que a água não entrasse. A luta continuou, mesmo sem braços, a agora a mandatária corta as nossas línguas, para que não possamos mais utilizar as nossas vozes pedindo socorro aos céus.
Hoje, 20 de junho de 2011, completa um ano que não moro mais em Blumenau. Atualmente resido no Rio de Janeiro/RJ e busco aprimorar a minha arte sem esquecer da importância que a cultura blumenauense tem na minha vida. São com os artistas de Blumenau que continuo a desenvolver meus projetos. O Titanic Fundação Cultural de Blumenau afundou e meus amigos artistas estão boiando em mar aberto tentando sobreviver. De onde estou me jogo no mar, não para resgatá-los, porque não cabe a mim fazer ressurgir do fundo da escuridão marítima a Fundação, mas para lutar com eles pelo direito de livre expressão.


Rafael Koehler
Ator
Grupo K - Teatro