sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

no ônibus...



ao sentar no ponto de ônibus ele não havia percebido quem estava ao seu lado. o ônibus parou. eles entraram. sem perceber, ele sentou novamente e não percebeu que havia sentado ao lado da mesma pessoa. o ônibus andou, ele abriu o seu livro e começou a ler coisas sobre o amor. “o amor!” ele pensava. o ônibus freou e ele deixou o livro escapar de seus dedos e cair nas pernas da pessoa sentada ao lado. ele pegou o livro ao mesmo tempo em que a pessoa o pegou, suas mãos se tocaram, seu coração disparou...

ele estava sentado no ponto de ônibus quando viu que um rapaz caminhava distraído em sua direção. o ar começou a faltar quando o jovem sentou ao seu lado. eles, lado a lado. o ônibus parou e ele correu para poder entrar primeiro e não ter que ficar em pé, olhando o jovem, sem entender o que aquele desconhecido o fazia sentir. ele baixou a cabeça, fechou os olhos e respirou fundo, voltando ao normal fisicamente. foi neste instante que sentiu que alguém havia sentado ao seu lado, ele abriu os olhos, o ônibus começou a andar. ao levantar a cabeça percebeu que o rapaz ao seu lado era o mesmo do ponto de ônibus. seu coração disparado parecia que ia sair pela boca. “o que está acontecendo?” ele pensava. o ônibus freou e o livro do jovem caiu em suas pernas. rapidamente ele pegou o livro para devolver, o jovem também pegou o livro, suas mãos se tocaram, seu coração disparou...

no ponto de ônibus havia um rapaz, calado, solitário, aparentemente triste. em sua direção caminhava outro jovem, com andar animado, aparentemente feliz. um sentou ao lado do outro. o ônibus chegou e o rapaz correu para entrar primeiro no ônibus, enquanto o jovem caminhava tranqüilo para poder embarcar. o rapaz sentou, baixou a cabeça, fechou os olhos. o jovem tranqüilo, distraído, entrou no ônibus e sentou ao lado do rapaz, sem perceber. o jovem e o rapaz, lado a lado. o ônibus andou. o jovem pegou seu livro para ler. o rapaz abriu os olhos, levantou a cabeça e percebeu que ao seu lado estava o jovem... seu coração acelerou. “o que está acontecendo?”, pensou o rapaz. “o amor”, pensou o jovem ao mesmo tempo. o ônibus freou, o livro do jovem caiu nas pernas do rapaz. o rapaz foi rápido ao pegar o livro para devolver, porem o jovem havia sido tão rápido quanto o rapaz... suas mãos se tocaram, seus corações dispararam, seus olhos se encantaram, e eles ficaram ali, imóveis, olhando um para o outro, o outro para o um, seduzidos, atraídos, chocados, paralisados, encantados. o rapaz e o jovem. o jovem e o rapaz. um segurou firme a mão do outro – não sei se foi o jovem ou o rapaz, e isso não importa – e o outro deixou ser segurado. a movimentação foi mínima, mas os dedos de um puxaram a mão do outro para mais perto do seu corpo. a boca do outro tremeu ao mesmo tempo que a boca do um também tremeu. e o olhos hipnotizados continuavam a se olhar. e sem perceber os corpos foram chegando mais perto, as bocas se aproximando, as mãos se tocavam mais fortes e quando eles menos esperavam, quando tudo fluía para o inesperado, o novo, o surpreendente, o ônibus freou bruscamente. o livro voou. todos reclamaram para o motorista. e eles, somente eles, apenas eles estavam com os olhos fechados, as mãos apertadas, as bocas encostadas tornando realidade o inimaginável. e a lágrima de felicidade correu no rosto de um. e o sorriso se abriu no rosto do outro.

domingo, 7 de dezembro de 2008

quase cinco...


eram quase cinco horas quando a brisa da madrugada acariciou o triste rosto dele. do mar apenas ouvia o barulho. por mais próximo que estivesse ele não conseguia ver. estava cego.
não era uma cegueira normal. estava cego de tanto chorar. de tanto sofrer. de tanto... amar. estava cego de amor. e será que era amor? será que o amor cega? será que o amor é sinônimo de sofrer?
para ele nada disso fazia sentido. as imagens vinham em sua mente. as palavras soavam em seu ouvido. o toque ele sentia em seu peito. as sensações eram reais. apenas as sensações. apenas o que a mente conseguiu reproduzir. era real o que não existia mais. o que ele sonha que possa, um dia, existir.
eram quase cinco horas quando a brisa da madrugada acariciou o rosto triste dele. apenas um nome. um ser. um desejo. uma cidade. distante. apenas ele sabia o que era. e o que não era. e o que seria, ou não seria.
ao adormecer na beira do mar ele sonhou: eles dormiam juntos. amavam-se. tocavam-se. beijavam-se. dormiam. eles dormiam abraçados. apaixonados. e o calor tomava conta de seus corpos... o calor... o calor... o calor que o acordou na beira do mar... o sol no auge do seu esplendor... ele no auge da sua dor. ambos no limite. positivo e negativo, mas no limite.
e deitado ele continuou... sem chorar. sem falar. sem gesticular. sem ninguém. sozinho. só... só pensando em quando era feliz. em quando ele o viu pela primeira vez, na beira do mar, com uma água de coco na mão. só lembrando do momento exato que seus olhares se cruzaram, que ele viu e foi visto. nenhum dos dois acreditava no que acontecia. nenhum dos dois acreditava no que via. e ficaram ali. parados. olhando-se. desejando-se. até o momento em que um sorrio e outro ficou em choque, por fora sorrindo também, mas por dentro, sentimentalmente em choque, pois sabia que a sua vida estava mudando naquele momento.
cinco anos se passaram. e eram quase cinco horas quando a brisa da madrugada acariciou o triste rosto dele. a lágrima corria por seu rosto e formava no chão uma pequena nascente de rio, até encontrar-se com o mar. eles jamais voltariam a se ver. um deles estava a sete palmos abaixo da terra. o outro na beira do mar, sem saber como suportar.